O que fazer quando uma pessoa é irônica ou age com raiva?
Essa é uma das questões da humanidade, toda vez que temos um relacionamento em pauta (filhos, trabalho, parentes) vamos ter questões emocionais que teremos que lidar dentro dessa relação e uma das coisas que mais nos causam transtornos internos (raiva, frustração, estresse e ansiedade) é a relação do outro conosco. Isso acaba por destruir ou por salvar alguns relacionamentos.
Existe uma questão na psicologia que é a questão da correlação da responsabilidade afetiva dentro de uma relação.
Tem uma sugestão de “lei de relacionamento” que você é 50% responsável como a outra pessoa reage a você. Então, somos 50% responsável por aquilo que falamos para o outro e da maneira que falamos, porque sabemos que aquilo que falamos e aquilo que fazemos poderão impacta-lo. Então temos responsabilidade sobre aquilo que acontece conosco quando quem está fazendo isso somos nós.
Então, por exemplo, se você posta alguma coisa nas redes sociais, deve ter consciência de que aquilo que fala e como fala é de responsabilidade sua, pois isso vai impactar em como as pessoas reagem também. Se você fala de uma maneira mais ríspida as pessoas vão reagir com raiva ou magoadas. Se você fala de uma maneira muito explicativa, as pessoas vão ficar cansadas e não vão entender. Então, temos que entender que, dentro de relações humanas, aquilo que falamos e fazemos tem impacto no outro. Depois que entendemos isso, vamos para o 100%.
De acordo com a concepção básica da psicologia, somos 100% responsável pelo impacto que os outros têm em nós. O que quer dizer isso?
As nossas emoções são, a maioria delas, involuntárias e inconscientes. Ou seja, o nosso estado emocional é biologicamente alertado pelo nosso corpo quando, de alguma maneira, acontece alguma coisa no mundo ou em uma relação ao que consideramos como uma ameaça ou como uma coisa boa. Dessa forma, elicitamos o nosso corpo uma reação emocional positiva (que nos faz sentir bem) ou vamos nos sentir mal e com raiva, que é o que chamamos no senso comum de negativa.
Só que ao longo dos anos, fomos construindo socialmente o que deveria nos fazer bem ou mal e, hoje, nós não temos mais um instinto totalmente adaptativo, porque fomos, desde a nossa criação, condicionados a entender que algumas coisas devem nos fazer sentir bem e outras devem nos fazer sentir mal. O que são, atualmente, coisas discutíveis quando falamos de saúde emocional, de você ser um individuo integro, feliz e pleno na sua existência.
Toda vez que fazemos alguma coisa, nós acionamos uma memória em nós, de maneira muito inconsciente, e reagimos emocionalmente (reagir bem ou mal). Por exemplo, você fica com raiva de mim e me dá uma ordem raivosa. Automaticamente, eu vou recuar, o meu corpo (junto com as minhas emoções) vai me dizer que alguma coisa está acontecendo. E, nesse momento, eu vou te atacar, eu vou sair de perto ou vou paralisar – mais conhecido como reação de luta ou fulga: dentro de uma ameaça social ou física, nós tendemos a ter essas três reações emocionais.
Em alguns espaços sociais (casa, escola) nós assimilamos que atacar era a melhor maneira, fugir era a melhor maneira ou que paralisar era a melhor maneira de se defender. E fomos tendo outros tipos de emoção aliados a isso. Então, é muito possível que para um de nós, quando alguém nos trata com raiva e ironia, responda com raiva e ironia no mesmo momento. Muitas vezes, inclusive, tentando mascarar a raiva e ironia. Assim como, para um de nós, a solução seja fugir do assunto e ir para a evitação. E, também, tem as pessoas que nessa situação travam e se sentem acuados.
A grande questão aqui é que quem é responsável por como você reage ao que outro faz é inteiramente você. Não estamos falando aqui de atrocidades, como: assassinato, fazer mal a uma criança, etc. Porque isso vai nos causar algo primitivo de tentar defender ou proteger o outro e essas reações são mais difíceis de entender e regular. Estamos falando das relações tradicionais (trabalho, amorosa, familiar) que nos causam emoções e que, geralmente, tem pessoas específicas que as gatilham, pois são pessoas que agem com raiva, com ironia ou com egoísmo.
O que fazemos quando entendemos que somos 100% responsáveis por como reagimos?
Primeiro você vai precisar entender que nós não controlamos a reação emocional do outro, não temos controle sobre ele. Nós podemos tentar ajuda-lo, tentando aplicar diversas técnicas de empatia (elas funcionam), mas isso não vai garantir que o outro vai se modificar. O único controle que temos é o que vamos fazer com isso.
Para que nós consigamos fazer com isso algo que nos faça bem, precisamos ter, em primeiro lugar, essa consciência de que nós somos 100% responsável pelas nossas reações. Isso quer dizer que nós podemos modifica-las.
Entender e validar: dar uma forma para isso que estamos sentindo quando alguém age de alguma maneira conosco.
A primeira coisa que precisamos fazer é entender o que sentimos. Por exemplo: quando o seu filho te diz não, você fica muito frustrado e isso te da raiva ou te deixa muito chateada quando seu chefe fala com você como fosse uma inútil.
Decidir o que fazer com isso
O decidir o que fazer com isso é muito difícil, mas muito libertador. Temos duas opções:
- Se nos importarmos com essa pessoa e com essa relação, retornamos isso para ela e falamos que não nos faz bem ou que não gostamos disso.
Essa é uma opção e é muito saudável mentalmente.
- Se não nos importamos com essa pessoa e com essa relação, devemos entender que a maneira como ela se expressa fala muito mais sobre ela do que sobre nós.
Eu gosto muito dessa informação, porque podemos confiar nela. Quando nós agimos com raiva, a raiva que sentimos, geralmente, é nossa mesmo.
Por exemplo: você não tem raiva do seu gestor porque ele fala desse jeito com você, sua raiva existe porque, de alguma maneira, você não consegue fazer com que ele te respeite mais.
A raiva e a frustração têm muito mais a ver o que sentimos sobre nós mesmos e como aprendemos a lidar com isso - com a nossa incapacidade de lidar com o outro.
Então, nessa segunda escolha, você pode conversar com a pessoa sobre isso ou não procura-la mais, cortar esse relacionamento. Você pode escolher o que você faz depois desse entendimento.
Mas, a sugestão é você sempre ir para a opção um e falar sobre o que você está sentindo e do impacto que essa pessoa tem em você.
Quanto mais você conseguir, dentro dessas explosões de temperamento das outras pessoas, entender a sua explosão de temperamento, mais você terá relações saudáveis, pois você deixa de depender da reação do outro e passa a depender apenas da sua.
Isso é completamente possível, é 100% aplicável, mas precisamos desmistificar algumas dessas questões.
Tentem fazer uma dessas duas escolhas. Eu sugiro que você sempre tente a primeira, pois, muitas vezes, falamos coisas que não sabemos que está ferindo o outro. Às vezes, por mais cuidadoso que tentamos ser, acabamos ferindo o outro sem querer. Se o outro não me disser isso, como vamos a ter chance de melhorar?
É muito mais respeitoso eu falar para você, o que você causa em mim do que decidir não te falar nada e misteriosamente sair da sua vida ou começar a falar mal de você para as outras pessoas.
Apesar de ser uma questão básica do relacionamento humano, ainda é uma questão que nos atrapalha muito na vida. Você tem total poder de decisão sobre como o outro vai te influenciar, mas você precisa admitir que isso te causa alguma coisa. Isso é humano, é adaptativo e você precisa decidir o que você vai fazer com isso. Engolir o que você sente nunca é uma boa alternativa para a sua saúde emocional – aumenta o seu estresse, a sua ansiedade e o julgamento que você faz do outro.
Entender e retornar com a maior sinceridade e serenidade possível, dentro do momento, são sempre a melhor maneira para poder modificar o seu estado de espírito e o seu relacionamento que você está tentando construir.
Isso dá muitos resultados efetivos e essa é uma das questões de relacionamento humano que mais nos dá liberdade para ser quem a gente é – para ser menos estressado e para parar de culpar o mundo pelas nossas dores. Muitas das dores de relacionamento (não todas) que a temos, nós mesmo conseguimos curar, se aceitarmos o que estamos sentindo e se gentilmente compartilharmos isso com o outro.
Franciele Maftum
Clique aqui para acessar esse conteúdo no youtube: <https://youtu.be/Cry-0FpNyis4>
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